O ligamento denominado talofibular anterior é o mais acometido. Em seguida, costumam aparecem o calcaneofibular e o talofibular posterior. Também é importante avaliar o grau de ruptura. Denomina-se grau I quando ocorre lesão apenas na matriz celular, com perda e desorganização das fibras colágenas. O grau II é caracterizado por ruptura parcial: as fibras alongam-se, mas não se rompem. No grau III, ocorre ruptura de todo o ligamento e, geralmente, há lesão de outras estruturas, pois é causada por entorses de alta energia cinética.
Na parte interna do tornozelo, o ligamento denominado deltóide é o mais comum. Essa estrutura possui duas porções: uma mais superficial e outra profunda. Esta última, quando acometida, evolui com instabilidade.
Casos crônicos, em geral na população feminina, são associados à dor, entorses de repetição e falta de confiança no tornozelo durante caminhada, corrida e até subida de escadas. De maneira geral, nesses casos, há desequilíbrio entre a musculatura inversora, eversora, flexores e extensores do tornozelo. Nessas situações, é necessária avaliação isocinética.
Afinal, entorse de tornozelo é grave?
Independentemente do grau da lesão ligamentar, há enfraquecimento da musculatura do tornozelo, em especial dos extensores e eversores, responsáveis pela extensão e rotação lateral do tornozelo. Esse movimento é denominado pronação. Em caso de perda da força muscular, haverá também desequilíbrio, facilitando que o indivíduo tenha novos entorses.
Embora os ligamentos do tornozelo tenham excelente potencial de cicatrização, a persistência da dor é um fator limitante, em especial em mulheres habituadas a usar salto alto. É comum haver crises intermitentes, muitas vezes obrigando o indivíduo a restringir atividades da vida diária.
Outro problema comum nos entorses é a perda do tato profundo, com comprometimento da coordenação motora, também chamada propriocepção. Talvez por isso, a atleta brasileira tivesse relatado a sensação do “tornozelo mole”. Em outras palavras: existe dificuldade dos receptores tendíneos e capsulares informarem o centro de coordenação motora do sistema nervoso central. Isso pode não afetar atividades da vida diárias, mas, para esportes de drible, giro e desaceleração, tende a haver comprometimento da performance, com perda da confiança do atleta em seu tornozelo e com a possibilidade de novos entorses.
Além disso, a entorse e a instabilidade do tornozelo podem trazer é a lesão da cartilagem, geralmente no encaixe do tornozelo, em uma área conhecida como domus do osso Talus. A lesão pode, em alguns casos, necessitar de tratamento cirúrgico.
A grande maioria das lesões ligamentares, se corretamente diagnosticadas e tratadas, evolui bem. A regra é tratar a dor e a inflamação, em seguida restabelecer propriocepção, força e equilíbrios musculares. E, por fim, realizar treino de pliometria (explosão muscular), que pode ser feito por treinadores experientes com amplo conhecimento da lesão. Essa última orientação é crucial para quem pratica atividades de mudança brusca de direção, como a capoeira, futebol, vôlei e basquete. Casos crônicos costumam se beneficiar com o fortalecimento isocinético.
Indicações cirúrgicas são raras. Em longo prazo, foi observada mesma evolução em pessoas submetidas à reconstrução ligamentar e aquelas que foram tratadas sem cirurgia. Há exceções nos seguintes casos:
- Atletas de alto desempenho, devido à necessidade da rápida reabilitação e retorno ao esporte;
- Casos de dores crônicas, com dificuldade de realização de atividades da vida diária;
- Falha após tratamento fisioterápico correto;
- Lesão da porção profunda do ligamento deltóide;
- Lesões de outras estruturas após entorse, incluindo fraturas, lesão cartilaginosa do tornozelo, rupturas e luxações tendíneas.