A prática esportiva pode desgastar a cartilagem articular?

Os benefícios da prática esportiva têm sido publicados em revistas científicas e têm, cada vez mais, levado algumas especialidades medicas a reduzirem ou retirarem medicamentos de uso contínuo como anti-hipertensivos, antidepressivos e medicações de controle do diabetes do tratamento dos pacientes.

Dentre os ganhos descritos, estão:

  • Melhora do humor;
  • Aumento da concentração;
  • Redução do estresse e a depressão;
  • Melhor qualidade do sono;
  • Manutenção do peso saudável;
  • Melhoria da confiança;
  • Estímulo à liderança;
  • Melhoria o desempenho profissional.

Também é fato que, com o envelhecimento, a cartilagem que reveste os ossos internamente à membrana sinovial se deteriora e os ossos entram em contato e se atritam, causando dor, num processo denominado degeneração artrítica ou, mais popularmente, artrose. Isso ocorre com todas as pessoas, sendo elas atletas, esportistas ou sedentárias. Possui forte influencia genética, mas nem todo mundo desenvolve sintomas que incluem dor, inchaço, perda de mobilidade e deformidade. Em outras palavras: todos passarão por isso em algum momento da vida; poucos apresentarão sintomas.

Hoje, trabalha-se com o conceito da “supercompensação”: durante a prática esportiva, existe a destruição tecidual, que é compensada com uma reconstrução de matriz extracelular de volume cada vez maior. Este processo já é bem estabelecido no tecido vascular, respiratório, cardíaco, muscular e de tendões. Mas e no tecido cartilaginoso?

Segundo alguns estudos, durante as atividades diárias normais (caminhadas), a cartilagem patelar sofre uma compressão média de 2 a 8%, quando comparada a situações de repouso sem carga. Exercício intenso pode acrescentar 2 a 8% na média de compressão aos valores encontrados durante as atividades físicas normais. Mas este padrão de destruição tecidual poderia estar ligado a uma supercompensação cartilaginosa?

Um estudo recente realizado na Baylor College of Medicine do Texas e apresentado este ano na reunião anual do American College of Rheumatology constatou, entretanto, menor incidência de artrite nos corredores, independentemente da idade, sexo e tempo no esporte.

Os pesquisadores analisaram dados de 2.683 participantes em um estudo de oito anos de duração. Os voluntários foram dispostos em quatro blocos de faixas etárias: 12 a 18 anos, 19 a 34, 35 a 49 e acima dos 50 anos. Também foram coletadas informações sobre radiografias dos joelho e os relatos de dor. Estas radiografias foram tiradas novamente dois anos mais tarde.

Usando esses critérios diagnósticos, os pesquisadores classificaram 22,8% dos participantes que tinham praticado corrida em algum momento de suas vidas(incluindo atualmente) como portadores de artrose do joelho, em comparação com 29,8 % daqueles que nunca tinham corrido. A constatação é ainda mais significativa quando se considera que a idade média dos participantes do estudo foi de 64,7 anos. Apesar de controverso, os pesquisadores afirmam que a atividade física dentro dos limites fisiológicos aumentaria a concentração interleucinas nas articulações, fatores que inibem a degradação da cartilagem e, desta forma, o esporte teria o efeito protetor sobre a cartilagem.

Recentemente, entraram em discussão científica os chamados biomarcadores cartilaginosos, produtos encontrados tanto no sangue quanto na urina e que mostram a quantidade de cartilagem que esta sendo degradada. O que se sabe até agora é que pessoas diagnosticadas com artrose que sentem mais dor têm realmente uma quantidade maior desses produtos em seu corpo.

Recentemente, um estudo realizado pelo grupo de traumatologia do esporte da Santa Casa de São Paulo mostrou que atletas de alto rendimento realmente degradam mais cartilagem. Mas será que isso levaria a uma artrose precoce? Se positivo, o que poderia ser feito para que esse processo de degradação fosse freado?

O temor em se desenvolver esta condição de caráter incapacitante progressivo e que, muitas vezes exige tratamento cirúrgico tem levado muitos praticantes de atividade física, em especial corredores, ao uso de suplementos que “prometem” poupar as articulações durante o treino, incluindo a condroitina, glucosamina, colágenos, diacereína, entre outros. Muitos destes produtos ainda sem nenhum estudo relevante que comprove sua eficácia.

Em 2012, um estudo envolvendo 11 universidades francesas denominado “Biovisco” envolveu esportistas voluntários submetidos à infiltração do joelho com ácido hialurônico. O resultado trouxe redução significativa de biomarcadores quando comparados aos usuários que não receberam o produto. Isso influenciou a comunidade científica positivamente, levando a modificações no produto, com a criação de formas mais concentradas, associando alto e baixo peso molecular e a sais como o manitol, na tentativa de se manter o produto o maior tempo possível dentro da articulação.

Mas, o uso desse produto seria realmente uma prevenção para que as pessoas não tiveram a artrose instalada?

Enquanto a ciência não responde essas perguntas, mantêm-se as dicas para um bom cuidado das articulações:

  1. Controle do peso: articulações como o joelho podem receber de três a cinco vezes o peso do indivíduo em uma aterrissagem, por exemplo;
  2. Mantenha o fortalecimento e o alongamento direcionados para o esporte que você pratica. Na corrida de rua, por exemplo, um bom trabalho de fortalecimento excêntrico do músculo anterior da coxa (quadríceps) aliado ao fortalecimento de grupos musculares do quadril é fundamental;
  3. Evite sobrecarga articular através de picos de treino; ou seja, exageros repentinos que podem fazer com que você exceda os limites fisiológicos da articulação.

Em caso de dúvidas, entre em contato com um dos especialistas do Espaço Ortopedia ou agende sua consulta pelo e-mail clinica@espacoortopedia.com.br