É possível praticar esportes com artrose no joelho?
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a artrose, conhecida popularmente como “desgaste articular” atinge 15 milhões de pessoas no país. No mundo, ela é a quarta enfermidade que mais reduz a qualidade de vida. O crescente número de casos entre atletas e praticantes de esporte tem sido preocupante e tem despertado a atenção da ciência, levando a inúmeras pesquisas na área.
Estudos tem mostrado cada vez mais que o exercício físico é fundamental no tratamento desta doença. Por aumentar a força e a flexibilidade, reduz a dor nas articulações e ajuda a combater a fadiga. Como a artrose cursa com sintomas como dor, inchaço, perda de amplitude de movimento e deformidade, muitos pacientes desenvolvem medo do movimento (cinesiofobia) e diversas perguntas emergem frente ao assunto.
As dez principais:
1. Quem está sujeito a isso?
Todos podemos ter artrose em algum momento de nossas vidas. Estudos indicam que obesidade, sedentarismo e fraqueza muscular aumentam as chances de uma pessoa desenvolver a lesão.
2. Quem já operou joelho tem maior chance de ter artrose?
Sim. Estatisticamente, quem já foi submetido a cirurgias como a reconstrução do ligamento cruzado anterior, posterior e, principalmente, após a retirada parcial ou total dos meniscos, nossos principais “amortecedores”, tem maior chance de desenvolver a artrose, mesmo que esta ocorra em apenas um ponto do joelho.
3. Mulheres desenvolvem mais artrose?
Sim. Devido a fatores anatômicos, onde a pelve da mulher, mais larga, faz com o fêmur um ângulo maior que no homem na vertical (em média, 17º na mulher e 14º no homem). Isso faz com que haja uma distribuição anormal de peso, com maior tendência sobrecarga na região externa do joelho, principalmente na porção externa da patela. Alguns estudos mostram que mulheres atletas têm aproximadamente o dobro de propensão em comparação com os homens, e tratando-se de mulheres negras, essas têm o dobro de propensão à artrose no joelho em comparação com mulheres brancas.
4. Quais os sintomas de um joelho com artrose?
A dor de caráter progressivo usualmente é o primeiro sintoma. Geralmente, acentua-se com a atividade física (degraus, subida e descida de escadas, esportes de contato e movimentos repetitivos) e é diretamente proporcional ao excesso de peso.
O joelho inchado (derrame articular) é o segundo sintoma e é muito frequente em pessoas que têm a doença e praticam esportes. Outro sintoma marcante é a perda progressiva do movimento e rigidez articular. Os efeitos da artrose no esporte vão desde queixas moderadas com inchaço e dores leves após esporte à incapacitação plena a atividades da vida diária.
5. Sedentários e pessoas pouco ativas tem menos chance de desenvolver a doença do que um corredor ou corredora de rua?
Não. Com o passar dos anos, por motivos profissionais e familiares, muitas pessoas tornam-se menos ativas. Infelizmente, o sedentarismo leva a atrofia muscular, com perda da capacidade de absorção de energia cinética e redução da resposta neutromotora dos movimentos, com consequente sobrecarga articular e degeneração.
6. Quem pratica esporte com regularidade acelera o desenvolvimento da doença?
Esta é uma das questões mais intrigantes para a ciência e a resposta é depende! Sabe-se hoje que os exercícios aeróbicos como corrida, ciclismo e natação melhoram a saúde do coração e permitem que os músculos trabalhem de forma mais eficiente, protegendo os joelhos. A Sociedade Americana de Reumatologia recomenda 30 minutos de exercícios aeróbicos por dia durante cinco dias por semana – ou seja, 2,5 horas por semana. Espera-se melhora de sintomas após aproximadamente seis a oito semanas de exercícios regulares.
No entanto, pessoas que praticam esporte sem a preparação prévia, sem orientação e com volume e intensidade acima da capacidade fisiológica individual têm enorme risco de acelerarem a degradação cartilaginosa, com consequente artrose precoce.
7. Corredores de rua tem maior chance de desenvolver a doença em relação a outros esportes?
Recentemente, um estudo envolvendo 11 universidades francesas realizado com corredores mostrou que quanto maior o volume do treino, maior a concentração sanguínea de produtos da degradação cartilaginosa, também chamados biomarcadores da cartilagem. Isso, segundo os autores, indicaria uma maior propensão à degradação cartilaginosa e, talvez, uma maior chance do desenvolvimento da doença entre corredores.
Um outro estudo realizado na Baylor College of Medicine do Texas constatou, entretanto, menor incidência de artrite nos corredores, independentemente da idade, sexo e tempo no esporte.
Isso leva a crer que uma boa preparação física, volumes de treino adequados e respeito ao “recovery” induziriam a uma resposta biológica de proteção articular.
8. A musculação pode proteger os joelhos para o desenvolvimento da artrose?
Assim como qualquer atividade física, a resposta também é: depende!
O que tenho visto cada vez mais em meu consultório é que muitas pessoas que ingressam em academias, principalmente aquelas que começam a treinar sem orientação de um profissional de educação física, acabam desenvolvendo lesões por sobrecarga no joelho, muitas vezes graves.
Exercícios praticados fora da chamada angulação de proteção, com aumento da carga acima dos limites fisiológicos, podem sobrecarregar a cartilagem e acelerar seu processo degenerativo.
A musculação, no entanto, sendo bem prescrita e praticada respeitando a resposta anabólica individual tem sido uma das melhores ferramentas para a proteção articular.
9. Existe prevenção da artrose?
Pessoalmente, considero o check-up esportivo a melhor forma de se avaliar e prevenir o desenvolvimento da artrose. Testes funcionais e de equilíbrio muscular, como o discinético, são, ao meu ver, de suma importância. Além disso, fatores como a anatomia individual, sobrepeso, história familiar de artrose e esporte praticado tem que ser analisados e bem orientados.
Por fim, um canal de comunicação entre equipe de saúde e o profissional de educação física deve ser estabelecido para a prescrição do treino, respeitando a capacidade fisiológica individual.
10. Quem tem artrose deve parar de praticar esportes?
Felizmente, graças aos recentes avanços em medicina esportiva, a resposta tem sido cada vez mais: não!
Procedimentos como a infiltração do joelho com ácido hialurônico parecem ter efeito benéfico sobre a cartilagem. Pesquisas publicadas nos últimos cinco anos em revistas científicas médicas mostraram efeitos como a redução da ativação de células inflamatórias responsáveis pelo desencadeamento da cascata inflamatória que causa destruição articular da artrose, estímulo da produção do próprio ácido hialurônico (endógeno), com melhoria da viscosidade do liquido sinovial e ação direta, e receptores de dor articular causando analgesia prolongada.
Sua indicação varia de paciente a paciente e a composição do produto, pelo grau da artrose. E é importante ter em mente que nunca deve ser instituída como terapia única e sim sempre associada um boa reabilitação, seguida de fortalecimento e reequilíbrio muscular. Pessoalmente, considero o procedimento como adjuvante à reabilitação tradicional e NUNCA como monoterapia.
Para os casos mais avançados da doença, técnicas cirúrgicas como a osteotomia, artroscopia e, recentemente lançada no meio médico, a subcondroplastia têm tido excelentes resultados e, quando aliadas a uma boa reabilitação, auxiliam em um retorno seguro ao esporte.
Fonte: Eu Atleta – globo.com
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