Membrana de colágeno revoluciona tratamento da condromalácia

A lesão da cartilagem da patela conhecida como condromalácia é bastante frequente, especialmente no sexo feminino, e está intimamente ligada a fatores anatômicos e, principalmente, a distúrbios biomecânicos no momento da execução do esporte. Nos últimos 20 anos, com a melhoria dos estudos da qualidade do movimento, notou-se que pessoas que desenvolvem lesão na cartilagem do joelho ligada a microtrauma de repetição possuem desequilíbrios musculares e dessincronização das articulações do quadril, joelho e tornozelo durante a prática esportiva.

Na corrida, por exemplo, ao se tocar o pé no solo existe a desaceleração que é executada pela contração excêntrica do músculo anterior da coxa e pela flexão sincrônica das articulações. Se não houver harmonia no movimento, associada a volumes e intensidades erradas, essa má qualidade do movimento levaria a um contato cartilaginoso anormal. A sua repetição constante, associada à má periodização de um treinamento, leva à ruptura da cartilagem, com consequente início de sintomas. Mas há boas notícias no tratamento, principalmente referentes ao uso de membrana de colágeno ou biomembrana (AMIC). Vamos entender abaixo.

Sintomas

  • Dor: em geral desencadeada durante o esporte. Com o avanço da doença, passa a incomodar em atividades como subir e descer escadas ou utilizar um salto alto, por exemplo;
  • Crepitação;
  • Aumento de volume no local: conhecido popularmente como “água no joelho” e em medicina como derrame articular. Ocorre porque toda lesão cartilaginosa cursa com muita reação inflamatória;
  • Estalos;
  • Sensação de falseios;
  • Perda de massa muscular;
  • Incapacitação progressiva para o esporte que se pratica.

Sobre a lesão cartilaginosa

Defeitos da cartilagem são uma condição comum, considerada grave, que, quando não tratada de maneira correta muitas vezes pode levar a uma maior degeneração conhecida como artrose ou osteoartrite, com um ônus social e econômico considerável para a sociedade.

Estima-se que, durante as artroscopias de joelho (cirurgias feitas por vídeo), a condromalácia está presente em até 60% dos casos, e em 19% deles nota-se a erosão completa, conhecida como condropatia grau IV.

o grande problema desta lesão é que, uma vez iniciada, dificilmente consegue-se uma “cura”, pois o poder de regeneração espontâneo do tecido cartilaginoso é próximo a zero.

Tratamento tradicional

A pedra angular do tratamento da condromalácia é a reabilitação. Após o diagnóstico em consulta médica, sob os olhos de um fisioterapeuta e, posteriormente, de um treinador experiente, os distúrbios do movimento, fraqueza e desequilíbrio musculares são identificados e tratados e a imensa maioria dos pacientes melhora sem tratamento cirúrgico.

No entanto, apesar do tratamento de excelência, devido à gravidade da destruição cartilaginosa, uma parcela dos pacientes se mantem sintomática e a intervenção cirúrgica faz-se necessária.

  • Opções cirúrgicas:

As indicações de cirurgia e técnicas empregadas sempre foram controversas e com resultados conflitantes. A tradicional artroscopia (inserção da câmera de vídeo na articulação) e “limpeza” da articulação, segundo a literatura, estaria atrelada ao aumento da reação inflamatória cartilaginosa (sinovite artrítica), perda de massa muscular e consequentes maus resultados.

A técnica da microfratura tradicional – onde diversas perfurações no osso subcondral (abaixo da cartilagem) estimulariam a migração das chamadas células-tronco mesenquimais que se transformariam em tecido fibro-cartilaginoso, tampando o buraco – também tem indicação controversa na condromalácia, pois estaria ligada a muita dificuldade técnica, riscos de fratura da patela e, mesmo com um a formação de um bom tecido, o mesmo teria índices de falha e refragmentação de 5 a 10 anos pós-operatórios, especialmente em indivíduos jovens e ativos.

Membrana de colágeno no tratamento da condromalácia

O termo membrana de colágeno ou biomemebrana refere-se à sigla conhecida mundialmente como AMIC (membrana autógena indutora de condrogênese), técnica relativamente nova de engenharia de tecido. Nela, o defeito cartilaginoso mais extenso é também trabalhado, perfurado e, a seguir, uma membrana biológica (biomembrana ou scafold) é inserida e as bordas do defeito são costuradas, tampando-se o defeito da cartilagem do joelho. Acredita-se que assim haja formação de uma cartilagem o mais semelhante possível da original do joelho.

As membranas ou matrizes diferentes foram criadas para proteger a coagulação do sangue e fornecer uma suporte mecânico e biológico às células-tronco, para que a transformação destas em tecido cartilaginoso semelhante ao original ocorra. Elas são desenvolvidas usando diferentes biomateriais, como colágeno, colágeno-hidroxiapatita, ácido hialurônico e quitosana .

  • E os resultados?

Publicações dos últimos dois anos mostram melhoria média nos escores de dor em 72% a 85% dos casos e retorno pleno ao esporte entre 18 a 24 meses pós-operatórios. E estes índices tendem a melhorar ainda mais com o passar dos anos: atribui-se a isso o fato de o tecido cartilaginoso ter crescimento regenerativo muito lento, comparado aos demais e ao período de reabilitação também prolongado, já que se trata de uma cirurgia aberta.

Conclusão

No tratamento cirúrgico da condromalácia e demais defeitos cartilaginosos da patela, a técnica AMIC pode ser considerada como um procedimento confiável.

O retorno esportivo não deve ser desencorajado em pacientes ativos no esporte, mas não antes 9-12 meses após a cirurgia, e depois seguindo um protocolo de reabilitação específico.

Aguardemos por mais avanços na engenharia de tecido com notícias ainda melhores!

Fonte: Eu Atleta – globo.com

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