Quem tem artrose pode fazer academia e exercícios físicos?

O desgaste de nossas articulações, conhecido na linguagem médica como artrose, é a doença mais prevalente na população mundial, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Dados estatísticos apontam que dos indivíduos acima dos 50 anos de idade, 60% já apresentam algum grau de degeneração; e quando analisamos a faixa etária dos 70 aos 75 anos, essa taxa já sobe para 80%. Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil, são 30 milhões de pessoas que sofrem desta enfermidade.

Também há dados estatísticos apontando que a população tem se tornado cada vez mais ativa e aumentado sua longevidade. Descobertas recentes da medicina esportiva de que o esporte praticado de maneira constante, continua, periódica e dentro dos limites fisiológico tem o poder de reduzir níveis de pressão arterial elevados, melhoria dos efeitos da diabetes e melhoria do perfil lipídico têm servido de estímulo à pratica esportiva da terceira idade.

Uma vez instalada, a artrose causa dor, deformidade, inchaço ou derrame articular, perda da mobilidade, atrofia muscular e, consequentemente, perda da capacidade de treinamento.

Frente a isso, diversos recursos têm sido estudados no intuito de aliviar sintomas e, de certa forma, alterar a evolução da doença. Medicamentos, infiltrações articulares com produtos como corticoide e ácido hialurônico, associados a um bom programa de fisioterapia, têm sido desenvolvidos. Mas um tema de grande debate e de dúvida tanto em profissionais da área médica quanto entre treinadores é prescrição de exercícios para artrose e outras doenças da cartilagem.

É muito comum que determinadas pessoas tenham tido êxito no tratamento instituído pelo médico e pelo fisioterapeuta e, ao ingressarem em uma academia de ginástica ou tentarem retornar a suas atividades esportivas, acabam tendo remissão dos sintomas. A crença difundida de que exercícios realizados em isometria seriam menos lesivos e de que uma boa progressão envolveria aumento da carga é um mito.

Os estudos são claros nos benefícios da prescrição de exercícios para portadores de artrose: a inatividade e o medo ao movimento devem ser amplamente combatidos e o treino deve ser prescrito de maneira individual e por equipe multidisciplinar.

Quebrando barreiras

Existem diversas barreiras a serem vencidas antes de se prescrever atividade física para quem tem artrose. A quebra de cada uma delas é fundamental para o sucesso no tratamento. Destacamos cinco:

  1. Troca de informações entre as duas pontas – Aqui é muito simples. A grande maioria dos médicos não entende de treinamento e a maior parte dos profissionais da educação física não entende da doença articular. A falta de comunicação e de troca de informações, salvo em alguns raros casos leva conflitos, deixando claro ao paciente que “cada um fala uma coisa”.
  2. Vencer a cinesiofobia (medo do movimento) – É muito importante o papel do fisioterapeuta experiente que sabe trabalhar bem o inicio do fortalecimento e qualidade do movimento com controle da dor, reencaminhando o paciente a nós, ortopedistas, quando julgam necessária uma intervenção médica, como uma viscossuplementação ou terapia avançada de controle de dor.
  3. Entender qual o melhor treinamento para que haja impacto em outras comorbidades como a hipertensão, hipercolesterolemia, asma, diabetes e doenças psiquiátricas. Para cada condição clínica, existe um volume e intensidade de treinamento aeróbico e anaeróbico (musculação) com benefícios diretos, inclusive com redução do uso de medicamentos. Isso é chamado em medicina esportiva de DOSE-RESPOSTA.
  4. Tirar o indivíduo do sedentarismo, ou seja, convencer quem sempre trocou os esportes por uma poltrona por falta de tempo ou vontade que agora sim é a hora de começar, mesmo com um desgaste avançado da cartilagem.
  5. No extremo oposto, convencer pessoas extremamente ativas a modificar a rotina de treinamento, adaptando o esporte ou trocando modalidades por outras a fim de se preservar a articulação desgastada, “driblar” sintomas, mantendo-se os benefícios do exercício.

A artrose vista pelos princípios do treino

Pensando nos princípios básicos do treinamento e adaptando-os à ampla variabilidade de sintomas da artrose, temos o seguinte:

1. Princípio da adaptação

Nosso corpo adapta-se a diferentes estímulos os vai assimilando aos poucos. O resultado disso é que aquele esforço físico para determinado movimento seja cada vez menor.

Se em um indivíduo que goza de perfeita função cartilaginosa isso deve ser realizado aos poucos, em quem já tem artrose a velocidade deve ser ainda mais reduzida. Em outras palavras: não deve haver empolgação nem pelo lado do paciente, nem pelo do treinador.

2. Princípio da continuidade

O músculo é um órgão dispendioso, energeticamente falando, e para se manter, precisa ser exercitado com regularidade, caso contrário será reduzido ao extremo. Isso é chamado em linguagem médica de sarcopenia. O estímulo de treino deve, por este motivo, ser repetido regularmente.

Aqui, pensando-se em ARTROSE, a possibilidade da recidiva de sintomas durante o exercício deve ser prevista e superada. Por exemplo: uma pessoa que trata de artrose no joelho e sentiu dor ou inchaço após treinamento deve voltar à fisioterapia para controle de sintomas e MANTER treinamento de membros superiores em uma academia ou em aulas de natação ou hidroginástica.

Pensando em artrose, a sobrecarga deve ser sempre muscular e cardiorrespiratória e minimamente articular. Para se chegar nisso, novamente, vale a tentativa e erro e conhecimento pleno de metodologia e alternativas de treinamento.

6. Princípio da reversibilidade

Este principio vem da seguinte ideia: “o que não se usa, perde-se”. Em outras palavras, infelizmente, tudo o que se conseguiu em benefícios do treinamento pode ser perdido em semanas se o treinamento parar.

Como dito acima, o grande desafio é de se vencer sintomas e manter o paciente ativo. Apesar da recidiva de alguns deles ser comum, devem ser logo controlados, comumente retornando-se à reavaliação médica e à fisioterapia – e, posteriormente, de volta ao treinador.

7. Princípio da variabilidade

Este princípio se refere ao fato de que quanto maior o tempo em que se realiza o mesmo treino, menos eficiente ele fica. Não importa o quão bom seja o treino, ele deve ser executado por um curto período. Em outras palavras: o treino não deve ser nunca confortável e deve ser sempre substituído. Um motivo a mais para que o treinador seja experiente e tenha “muitas cartas na manga” na condução do treinamento.

Existem diversas escalas para classificar grau de artrose. De maneira mais simples e didática, costumo utilizar a escala da International Cartilage Repair and Joint Preservation (ICRS), na qual a progressão da doença é dividida em quatro graus. Levando os princípios do treinamento descritos acima em consideração, seguindo estudos publicados nos últimos 20 anos, a prescrição de exercícios pelo grau da artrose deve seguir as seguintes diretrizes:

Fonte: Eu Atleta – globo.com

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