Ruptura do ligamento cruzado anterior em adolescentes e crianças: prevenção e tratamento
Classicamente, as lesões ao ligamento cruzado anterior (LCA) são consideradas raras em crianças e adolescentes. A percepção do aumento da incidência desta lesão, cujo tratamento tende a ser cirúrgico na grande maioria das vezes, tem sido alvo de publicações em revistas científicas de medicina do esporte na última década. Estudos populacionais que avaliam sua ocorrência na população ao longo do tempo têm sido publicados, principalmente nos últimos dois anos. Sim, realmente crianças e adolescentes estão lesionando mais o ligamento cruzado anterior (LCA) e infelizmente nós, cirurgiões de joelho, temos deixado de abordar o problema como sendo uma lesão rara.
Mas por que isso está acontecendo?
O assunto é bastante polêmico e, segundo alguns autores, estaria ligado ao aumento da participação desta camada da população em esportes de alta demanda durante todo o ano. Além do volume excessivo de treinos e de cobrança por resultados, os atletas mirins não estariam sendo bem preparados e condicionados para os esportes. E quando se pensa em crianças, adicionamos a possibilidade de haver incompatibilidade entre a maturidade do aparelho locomotor com determinado tipo de treinamento.
Um estudo publicado na revista norte-americana Pediatrics mostra que a taxa de rupturas do LCA foi, em média, de 121 a cada 100.000 adolescentes e crianças por ano. Em relação aos estudos das décadas anteriores, todas as tendências aumentaram significativamente, exceto para as faixas etárias masculinas de 6 a 14 anos e de 17 a 18 anos. No geral, houve um aumento anual de 2,3%. As mulheres tiveram uma incidência significativamente maior, exceto entre os 17 e os 18 anos de idade, com pico de incidência aos 16 anos e os homens aos 17 anos, com índices de 392 rupturas do LCA e 422 lesões do LCA por 100.000 pessoas-ano, respectivamente.
Como conduzir estes casos?
Historicamente, a lesão do LCA em atletas mirins é motivo de debates calorosos entre cirurgiões de joelho.
Por um lado, sabe-se que o tratamento não cirúrgico traz resultados ruins, assim como nos adultos; existem evidências de que lesões no menisco e degeneração da cartilagem podem aparecer. O uso da joelheira articulada não impede as lesões meniscais ou a instabilidade.
Por outro lado, existe o temor de que este tipo de cirurgia apresentaria um risco de lesão da placa de crescimento, levando a uma deformidade angular (perna torta) ou a uma discrepância de comprimento nos membros inferiores. As placas de crescimento, chamadas de FISE entre nós, ortopedistas, são a parte responsável pelo crescimento dos ossos das crianças em comprimento. Estas placas estão localizadas nas extremidades dos ossos longos e, particularmente, nos membros inferiores. Boa parte do crescimento se deve às placas do fêmur e da tíbia.
Dois fatores têm levado a comunidade mundial de cirurgia de joelho a recomendar a reconstrução do LCA mais cedo, mesmo em crianças:
- Primeiro: Como já dito, pesquisas mostram que um joelho instável está sujeito a novos entorses e, consequentemente, há grande chance de lesão dos meniscos e da cartilagem. E estas lesões num paciente jovem são muito problemáticas e têm uma evolução ruim, levando a um desgaste precoce do joelho. O risco de termos um joelho com muitas lesões é maior do que o de termos um problema na placa de crescimento quando operamos estes pacientes.
- Segundo: Diferentes técnicas cirúrgicas têm sido descritas e modificadas em pacientes com FISE ainda em desenvolvimento, com bons resultados e pouca alteração de crescimento. Ou seja, existem modificações da cirurgia do LCA tradicional que permitem que a placa de crescimento seja minimamente afetada em crianças.
Prevenção
Finalmente, a prevenção da lesão deve sempre ser levada em conta. Em crianças e adolescentes muito ativos, esta envolve o respeito ao estágio do desenvolvimento do aparelho locomotor e neuromuscular do atleta. Por outro lado, o sedentarismo deve ser combatido naqueles que se dedicam horas e horas por dia na frente de celulares e videogames. Afinal, assim como nos adultos, o despreparo físico está ligado a altos índices de lesões.
Fonte: Eu Atleta – Globo.com
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